quinta-feira, 28 de abril de 2011

é tão engraçado observar a sombra produzida pelo corpo, qualquer que seja o corpo.
dou por mim fascinado, tempos finitos a olhar, a contemplar, e nunca produzo nada a não ser a simples memória daquele momento tão banal, fugaz, e provavelmente tão igual a outros - deixa de o ser assim que eu o guardo, algures, aqui ou ali. esse momento guardado, ou perdido entre os arrumos, fica em mim de alguma forma, e é esse conhecimento, do mais simples e efémero que exista, que me dá prazer falar, por que viver é sentir, e sentir obrigatoriamente passa por sentir os mais pequenos e repetitivos momentos, actos.
gosto de pensar em mim como um esponja de momentos, que absorve o que consegue do que o rodeia. óbvio que há dias que o grau de atenção é superior e o meu interesse também, contudo mesmo nos dias menos produtivos há sempre algo que entra e fica, e é isso que é tão interessante. é interessante e fascinante eu dar por mim a recordar a árvore que em tempos era e que agora já não é, ou a ver o lixo que fica no fundo dos meus bolsos, ou da mochila.
absorver estes momentos, aquelas fotografias visuais, aqueles cheiros, sons que me atraem, que captam a minha atenção, e deixam, no momento, ou nos momentos, a seguir, de existir. é tão importante manter esses momentos, mas como é que o faço, e se os perco? provavelmente amanhã poderia ir ao mesmo sítio e voltar a sentir, mas não iria sentir da mesma forma, não, não, e não me perdoaria por ter perdido aquele momento. mas ao recordar que perdi esse momento claramente já o deveria ter aqui guardado, mas não da forma que eu queria, mas quem sou eu para dizer qual é a forma que o sentir e o recordar devem tomar? devo-me contentar em sentir e recordar da forma que sinto e recordo. porque há variadíssimas possibilidades, e haverá variadíssimas variações desses sentir e recordar.
o que torna a coisa ainda mais engraçada, é justamente recordar agora uma lembrança já recordada em tempos, e ver, o que a vida fez de mim, e como isso influência a forma como sinto a recordação que guardo entre os meus armários de vida.