terça-feira, 3 de abril de 2012

permanentemente só! nunca só!
és, és, és.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

aquela árvore ali, coitada. se sobre ela ainda poisassem aqueles pequenos e insignificantes animais, que no passado, não tão passado assim, mas o suficiente, gastavam constantemente o seu tempo aos saltos entre uns e outros galhos. que felicidade que era, sentir aquelas pequenas patas a saltar de um lado para o outro, e ouvir, Ai ouvir, aquele som tão etéreo. pobre árvore, agora não será mais do que mais uma entre tantas, mais uma que nada tem. se ao menos os pássaros voltassem, mas todos sabemos que isso não irá acontecer, isto não é coisa do inverno, passageira, isto será para sempre.
oh pobre árvore, quem me dera poder dar-te um último prazer, de sentires com os primeiros ares da primavera e os teus primeiros filhos a surgirem, o amor dos pássaros, aquele amor tão único, inocente, complexo - contudo o mais simples de todos-, oh minha querida árvore que agora florescerás na escuridão e na solidão, quem me dera mudar-te o futuro, mas não sou mais de que umas mãos, umas mãos que só fazem limitadas coisas, como bem sabes, umas mãos que não são mais do que serem umas pobre mãos.
queria poder dar-te toda a felicidade, mas não posso, sou apenas umas mãos, umas tristes, cansadas e velhas mãos, quase tão velhas como a tua pele, quase tão cansadas como as tuas raízes, quase tão tristes como os teus galhos que ficarão agora para todo o sempre nus.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

os chinelos, velhos coitados repousam ali, naquele escuro e desinteressante canto. já não mais serão calçados - foram substituídos -, contudo a sua vida não foi extinta, permanecem ali e em cada mazela uma história. serão histórias provavelmente que jamais interessarão o mais comum dos mortais, e por essa mesma razão não serei eu o anormal a achar interessante descrever detalhadamente cada uma das histórias preservadas, através de marcas físicas nos pobres restos de tecido. interessa, talvez, mais, a história dos pés que calçaram aqueles chinelos durante estes últimos cinco anos, tempo que os pobres coitados foram usados, mas se não for incómodo eu preferia antes, se calhar, de falar das pernas onde os pés estão adjacentes, ou até mesmo do tronco do corpo, que vergava-se todos os dias para calçar as meias antes de calçar os chinelos, naquele simples e conhecido movimento de enfiar os pés, um de cada vez - por norma-, pelo chinelo adentro, sentindo confortavelmente os dedos a tocar nos limites curvos das pontas dos mesmos. poderia também falar das mãos que  calçavam as meias, pois eram elas que juntamente com o movimento da coluna que executavam a desinteressante, e quase diária, (diária para a maioria, espero), de calçar o par de meias, pretas para alguns, com padrões para outros, desportivas, de vidro ou qualquer outra espécie existente deste tão útil objecto de vestuário.
poderia falar da pessoa, a que possuí estas mãos, tronco, pernas e pés - e obviamente outras partes do corpo que não mencionei - porém a vida (quer física quer psicológica) do ser humano não me interessou desde o inicio, e são sim os chinelos o assunto que gostaria de desenvolver, contar. explicar cada mancha do chinelo esquerdo, aquela parte rota na ponta esquerda do chinelo direito, o rasgão na zona do dedo mindinho desse mesmo chinelo - todos têm justificação, razão de terem existido, e eu recordo-me de todos, Porém não o vou fazer, por que como já o disse ninguém se interessa, e só um anormal acha que isto tem qualquer importância para ser preservado em palavras, por essa mesma razão não será hoje que o farei, espero talvez um dia ter a coragem de não achar anormal interessar-me por uns velhos chinelos.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Tenho chegado à conclusão que é mesmo custoso, mas ao mesmo tempo maravilhoso, crescer.
Porque há um passado, que me acompanha, e sempre que vejo alguém falar do passado, sinto uma certa dor, que não sei, muito francamente se é boa ou má, apenas está aqui, contudo sempre que a sinto, penso. E será que quando chegar a minha vez de ser mais velho, e olhar para trás, o recordar trará dores más? Serão lembranças que me provocarão desconforto?
Por que mesmo hoje, quando olho para certas coisas que já foram, mas pelas casualidades do crescimento deixaram de ser, fico com um certo aperto, receio que esse aperto cresça comigo, e torne-se cada vez menos suportável olhar para trás.
Apesar de toda a problemática trazer certas sensações, eu não consigo prescindir de o fazer, por que claramente faz parte do meu processo de crescimento, e como o lugar-comum diz "aprende com os erros", ou coisa parecida.
A minha verdadeira dúvida é se olhar para trás, no final de uma longa caminhada é tão custoso como os filmes fazem parecer, ou se é muito mais sustentável, e possivelmente até bastante bom.
Continuarei, espero, que nunca se sabe o dia de amanhã, a olhar para trás, e para a frente, para os lados também, se assim for necessário, que com os vizinhos aprende-se sempre alguma coisa.

sábado, 9 de julho de 2011

as gotas de sangue paridas escorrem. percorrem o seu natural caminho entre os volumes das pernas da mulher. pousam e misturam-se com o tecido, já anteriormente manchado por este combustível que percorre toda a nossa existência física. não serão mais recordadas, nem pela mulher, nem por mim, que ao escrever aqui descarto-me da responsabilidade de manter esta memória presente em qualquer dos cadernos e diários mentais.


quinta-feira, 28 de abril de 2011

é tão engraçado observar a sombra produzida pelo corpo, qualquer que seja o corpo.
dou por mim fascinado, tempos finitos a olhar, a contemplar, e nunca produzo nada a não ser a simples memória daquele momento tão banal, fugaz, e provavelmente tão igual a outros - deixa de o ser assim que eu o guardo, algures, aqui ou ali. esse momento guardado, ou perdido entre os arrumos, fica em mim de alguma forma, e é esse conhecimento, do mais simples e efémero que exista, que me dá prazer falar, por que viver é sentir, e sentir obrigatoriamente passa por sentir os mais pequenos e repetitivos momentos, actos.
gosto de pensar em mim como um esponja de momentos, que absorve o que consegue do que o rodeia. óbvio que há dias que o grau de atenção é superior e o meu interesse também, contudo mesmo nos dias menos produtivos há sempre algo que entra e fica, e é isso que é tão interessante. é interessante e fascinante eu dar por mim a recordar a árvore que em tempos era e que agora já não é, ou a ver o lixo que fica no fundo dos meus bolsos, ou da mochila.
absorver estes momentos, aquelas fotografias visuais, aqueles cheiros, sons que me atraem, que captam a minha atenção, e deixam, no momento, ou nos momentos, a seguir, de existir. é tão importante manter esses momentos, mas como é que o faço, e se os perco? provavelmente amanhã poderia ir ao mesmo sítio e voltar a sentir, mas não iria sentir da mesma forma, não, não, e não me perdoaria por ter perdido aquele momento. mas ao recordar que perdi esse momento claramente já o deveria ter aqui guardado, mas não da forma que eu queria, mas quem sou eu para dizer qual é a forma que o sentir e o recordar devem tomar? devo-me contentar em sentir e recordar da forma que sinto e recordo. porque há variadíssimas possibilidades, e haverá variadíssimas variações desses sentir e recordar.
o que torna a coisa ainda mais engraçada, é justamente recordar agora uma lembrança já recordada em tempos, e ver, o que a vida fez de mim, e como isso influência a forma como sinto a recordação que guardo entre os meus armários de vida.

terça-feira, 15 de março de 2011

pedra cinza, solta. anda sem rumo, com rumo definido, um rumo destinado, de destino.
igual na particularidade de ser diferente para todos, esta igualdade, válida, faz-la andar, rodar, saltar, parar e retomar.
a incerteza da ausência do destino paira, e em cada paragem surgem entre todas as sombras dos passados que a rodeia, por entre todas aquelas árvores, vivas e mortas, aqueles pequenos apontamentos de vegetação. são eles os portadores da incerteza; desistentes, que aceitaram o seu, imposto, por eles, destino, e amaldiçoam cada viajante, peregrino, lutador, que não quer aceitar como verdade o que entre estes meios vivos, meios mortos corpos, que compõem a composição que nos rodeia, dizem ser o melhor a fazer, desistir e aceitar é a reposta.
mas esta pedra cinza, solitária, sem categoria, continua rolando e saltando por entre este meio que não a compreende, não querem deixa-la partir, não compreendem a sua razão de lutar e de tentar.
a morte está ali, ali a frente, mas não é por isso que vou deixa-la vir ter comigo, posso facilmente ir eu ao encontro dela, e entregar-me logo, de uma vez só, aos seus mantos negros.
a morte está ali, mas não é a nossa espera, o que quer dizer que estará a seguir, e então, novamente a mesma força, a mesma razão, vai para a frente, procura a sua morte ou a sua fortuna.
não é aquela a sua morte, novamente, e quando olha para trás, os que estavam com ela no início resignados, já não são mais do que umas sombras presas entre os tecidos da morte.

agora esta pedra encontrou o fortúnio, o seu destino, o que lhe estava destinado era ultrapassar-se a si mesmo e dessa mesma forma conseguir ultrapassar um medo imposto, e agora, agora, depois de ter conseguido vencer o temor que lhe ardia por dentro, encontrou então a sua função e encontrou os seus irmãos viajantes, que de outras terras vieram, que por outras terras tiveram que dar prova das suas forças.
agora o destino é deles, e a nós pouco interessa quem era as pedras e para onde vão agora.