sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

o desespero leva as pessoas mais racionais à loucura, não tenho pena.
começo a correr.
corro, corro, corro.
sinto-me bem, corro para avançar.
creio que estou mais do que ontem.
mas estou a correr em círculos e se estou a correr em círculos, não ando mais do que a recalcar o mesmo caminho sempre, e sempre.
onde está o avanço se o caminho é o mesmo?
onde está a evolução se não saio do mesmo sítio?
se há caminhos não físicos - que os há - então eu posso correr por ai.
posso correr dentro de mim, apesar de fisicamente estar a correr em perfeitos e geométricos círculos.
são ou serão estas as corridas que me darão mais, me mostrarão mais.
agora se correr em círculos mentais, ai, provavelmente, não sairei, realmente, de sítio algum, e perderei-me para sempre num longo caminho ausente de indicações e orientações.
apesar de tudo continuo a correr, muitas das vezes sem saber por quais dos círculos estou, nalgum hei-de estar, mas logo que não se torne uma constante não faz mal, pelo contrário, é bom.
é bom por vezes parar, respirar - mesmo que isso signifique estar a correr num círculo - para darmos tempo a nós próprios para o amanhã.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ontem à noite invadiu-me uma, ou a, necessidade de me deitar, e desligar tudo o que desse luz ou som. Devo dizer, desde já, que eu nunca durmo sem um aparelho a dar luz ou a dar som, o que significa que normalmente a televisão fica acesa. Depois de me deitar e de ter tudo apagado, a minha gata deitou-se junto a mim, dentro dos cobertores, e enquanto lhe fazia festas com a mão direita pensava. Comecei portanto a divagar, e eu divago bastante, sempre, e é muito bom. Estava eu a divagar, quando sou invadido por uma porta, uma porta branca de madeira - não era a madeira que era branca, era castanha, a porta foi é pintada de branco depois -, e essa porta tinha quadro vidros, mas não era vidros normais, eram daqueles meios fusco, que vê-se o que está do outro lado, mas não se vê correctamente. Pensei então, será que nós quando vemos também não estamos a ver assim, através de um "filtro" e o que julgamos estar correcto não será mais do que uma distorção aleatória da realidade? Por exemplo eu, eu vejo mal, e para conseguir viver normalmente uso óculos, e eu vejo "bem" com eles, mas assim que os tiro tudo fica desfocado, e é-me muito difícil descodificar o que está longe ou perto de mim. Quando tiro os óculos vejo o que naturalmente os meus olhos deveriam ver, contudo sei à partida, por que foi-me incutido dessa forma, que ver bem não é ver como eu vejo sem óculos, mas a minha questão é: se eu vir nitidamente as formas e as coisas à minha volta estou a ver bem? Eu posso estar a ver as coisas, contudo posso não estar a vê-las de todo, por que simplesmente não quero, ou nunca pensei no assunto.
Ver bem é ver nitidamente, mas ver a realidade é totalmente mais complexo e diferente. E eu certamente com ou sem óculos ainda não consigo ver a realidade, vejo uma realidade, vejo a minha, mas não vejo a do meu vizinho, ou da minha vizinha, e certamente nunca irei ver - nem quero-, quero sim é encontrar uma visão mais correcta, uma visão mais racional, num bom sentido, evidentemente, que me permita ver de forma mais igualitária o que me rodeia.

A divagação continuou, a gata adormeceu, eu adormeci.