domingo, 27 de junho de 2010

Ao som de Piaf a noite passa rápido, o sol nasce, invade o meu quarto, tudo ganha uma nova tonalidade, uma nova aura, muito mais agradável. Por todo o lado surgem reflexos do céu cinzento que se encontra, neste momento, atrás de mim. Os brancos estão muito mais intensos, e a simplicidade desta luz, que não é forte como o a luz directa do sol, deixa-me incrivelmente tranquilo. E dizem que o cinzento é uma cor muito depressiva, cá para mim é do mais equilibrado que existe.
Piaf continua, mas o que eu estava a fazer ficou suspenso para uma pequena pausa, um petit pequeno-almoço, um texto aqui, um cigarro ali - ainda falta a última parte.

Dá-me tanto prazer pintar durante as primeiras horas do dia, aquelas horas entre as cinco da manhã e as nove, que para mim são as horas mais mágicas do dia, principalmente quando estou sem dormir a algum tempo. Tudo parece que se desenvolve a um tempo próprio, um tempo paralelo àquele que nos consome todo o dia, durante praticamente quase toda a nossa vida. Este tempo, paralelo ao outro, que acaba por ser o mesmo, mas eu não o vejo dessa forma, é tão puro, tão etéreo, tão pessoal. Não há outro igual. Cada dia tem o seu momento, cada amanhecer é carregado por emoções e simbolismos próprios, todos meus, todos, todos, todos. É isso que me dá prazer, saber que para muitos se trata apenas do nascer do dia, para mim é todo um acumular de emoções de sentimentos, tanto físicos como psicológicos. Cada amanhecer faz-me sempre esboçar um sorriso, mesmo quando se trata de amanheceres em dias de entregas de trabalhos, em que passei a noite toda a trabalhar. Dá-me sempre um momento de felicidade pura. Escassa mas tão forte que parece durar longas horas.
Estes amanheceres fazem-me sempre lembrar a minha infância, quando ainda nem tinha idade para ir a escola, fazem-me lembrar especificamente as manhãs de primavera e verão quando tinha quatro ou cinco anos, pequenas lembranças que ainda estão por cá, lembranças tão simples, tão inúteis, mas que me são de extrema importância. Se as perdesse seria uma pessoa muito menos completa.
Lembranças curtas, muito limitadas, sem exactidão, mas são responsáveis por muitas das coisas que agora gosto. Uma delas é, como tenho vindo a falar gostar do nascer do sol, e acha-lo completamente mágico, único e meu.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Seria demasiada arrogância da minha parte partir do pressuposto que tenho o direito de dizer o quer que seja sobre o assunto. Mas feliz ou infelizmente eu sinto-me no direito, como cidadão, de me prenunciar sobre o que bem entender. Pelo que falar do que está neste momento na boca do mundo ser-me-há tão correcto como outro fazê-lo. Mal soube, passava pouco da uma da tarde, encontrava-me no autocarro trezentos-e-cinco com destino à escola, para acompanhar quem ia fazer exame de desenho, sim porque eu sou simpático e acompanho pessoas a exames, e quando estava já perto da escola recebo uma mensagem : Saramago morreu. O meu primeiro pensamento foi: Goza-me, e foi exactamente isso que escrevi. Era verdade, tinha mesmo acontecido. Há que dizer que apesar de me ter custado imenso pensar nessa situação uma coisa é certa, eu não o conhecia, o que conheço são meia dúzia de entrevistas que vi na televisão e na internet, e cinco livros da sua autoria, que li. O que não me dá o menor direito de dizer que vou sentir falta e que me custa pensar na sua morte. Mas a verdade é que custa, custa-me pensar que já não poderá criar algo novo, o que é uma visão muito egoísta, porque não sofro a morte da pessoa, sofro a morte do génio. Não sei se era boa pessoa ou não, pessoa que deveríamos respeitar ou não, não sei se era simpático, bem disposto, nada, sei um grande nada sobre isso, e não me interessa muito o que tem sido dito nestes últimos dias, porque face à morte todos os que partem são muito bons e só fizeram coisas boas e falar das coisas más é pecado e estamos a difamar o defunto. Lamentavelmente não concordo e acho que devemos sempre dizer a verdade.
Por isso, egoistamente, sinto profundamente a perda deste grande génio, deste senhor que através das palavras nos oferecia as melhores imagens, os melhores sentimentos. Tal como um artista, no sentido pictórico, Saramago explorava, da sua forma, os sentimentos, as ideias, as sensações, as emoções, as imagens de modo a possibilitar-nos a melhor experiência. Era tão artista como Vieira
da Silva ou Picasso, só que era através das palavras. Não me admiro que agora toda a gente goste da sua obra e que goste dele, é típico no ser humano. E lembrar só depois de morrer deve ser quase um mandamento que quase toda a gente segue religiosamente. Sinto, com enorme pesar, a sua morte, sinto que abriu-se uma enorme brecha no núcleo artístico português. Felizmente há sempre um amanhã, e surgirá, espero, uma nova vertente, um novo sopro de ar fresco, e surgirá outro alguém que nos providenciará bons momentos de leitura, não os mesmos, mas outros. Seria impossível oferecer-nos as mesmas sensações, porque nada se repete.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

NÃO QUERO SABER! NÃO QUERO SABER! NÃO QUERO SABER!
QUERO SABER, MUITO. QUERO SABER, TANTO. QUERO SABER, DESESPERADAMENTE..
NÃO PODIA CUSTAR TANTO ESPERAR QUE CHEGUE "AMANHÃ" COMO HOJE.
SOMOS TÃO FRACOS, TÃO FRACOS, RESISTIR AO MAIS PEQUENO DESEJO É TÃO DIFÍCIL COMO FICAR SEM RESPIRAR MEIA HORA.
A FRAQUEZA É TANTA QUE ATÉ ME ENVERGONHO DE DIZER QUE SOU FRACO. MAS A REALIDADE É ESSA, A FRAQUEZA ESTÁ EM MIM, ESTÁ EM NÓS.
E O MEDO? O MEDO É TÃO, OU MAIS, COMUM NO SER ÚTIL, ESTÚPIDO, CAPRICHOSO, INVEJOSO QUE SOMOS, QUE A FRAQUEZA.
USAMOS LABIRINTOS, APERTADOS COMO TUDO, LABIRINTOS FEITOS DO MATERIAL MENOS DURO E MAIS RESISTENTE QUE EXISTE. USAMOS LABIRINTOS TÃO APERTADOS QUE NOS IMPEDE DE SOFRER QUANDO CAÍMOS. USAMOS LABIRINTOS DE PALAVRAS, DE LINGUAGEM, DE MITOS, DE CRENÇAS, LABIRINTOS QUE SÃO AMORTECEDORES. PERMITEM-NOS AVANÇAR COM SEGURANÇA. PERMITE-NOS CAMINHAR SEM TERMOS QUE NOS PREOCUPAR COM O CAMINHO, POR QUE JÁ ESTÁ DEFINIDO, MESMO QUE ANDEMOS ÀS CURVAS, SÃO CURVAS SEGURAS.
OS QUE NÃO SEGUEM ESSE LABIRINTO, QUE FURAM AS PAREDES E COMEÇAM UM NOVO CAMINHO, PELA TERRA SECA, PELA TERRA ESQUECIDA QUE OUTRORA ERA TÃO OU MAIS INTERESSANTE E IMPORTANTE QUE A AGORA UTILIZADA PELOS COMUNS. OS QUE OPTAM POR DESCOBRIR, OU REDESCOBRIR O QUE JÁ FOI ESQUECIDO, ESSES SENTEM CADA PISADA, SENTEM CADA QUEDA, CADA GOTA DE SUOR, CADA LÁGRIMA - DERRAMADA PELOS MAIS VARIADÍSSIMOS MOTIVOS, SEJAM ELES DE CANSAÇO, FELICIDADE, ARREPENDIMENTO, ALEGRIA, ÓDIO, ETC. ESSES SÃO OS QUE DEVERIAM SER APLAUDIDOS E APOIADOS. HÁ QUE REDESCOBRIR E DESCOBRIR O QUE AINDA FALTA. HÁ QUE SENTIR. SENTIR O QUER QUE SEJA, MAS SENTIR. CADA SENTIMENTOS BOM OU MAU, TEM QUE SER RECEBIDO COMO UMA DÁDIVA, UM DIREITO.
HÁ QUE DIZER NÃO AOS LUGARES-COMUNS, AOS FACILITISMOS, AOS CAMINHOS FEITOS, HÁ QUE QUERER TER O DESEJO DE NÃO TER A MAIS PEQUENA IDEIA DE ONDE ESTAMOS, O QUE ESTAMOS A FAZER, MAS SABER POR QUE O ESTAMOS A FAZER. A DESCOBERTA É ESSENCIAL, QUER SEJA ELA INTERIOR OU EXTERIOR.

GOSTAVA DE FURAR NESTE MOMENTO O LABIRINTO ONDE ME ENCONTRO, E DESCALÇO SENTIR, SENTIR O PRIMEIRO TOQUE DO MEU PÉ ESQUERDO, QUE É BEM MELHOR QUE O DIREITO, NO CHÃO DURO, CRU, RUDE, INANIMADO, ABANDONADO E PERDIDO, MESMO AO LADO DOS VERDEJANTES BRAÇOS QUE ABRAÇAM TODA UMA HUMANIDADE. COMO GOSTAVA DE PODER SENTIR TODAS AS DORES QUE SURGIRIAM. QUERIA TANTO, MAS TANTO SER RESPONSÁVEL PELAS MINHAS DESCOBERTAS NESTA NOVA TERRA DE PECADOS, SER CAPAZ DE RESPONDER, EM TODA A SUA EXTENSÃO, ÀS PERGUNTAS QUE ME FOSSEM COLOCADAS, CONSEGUIR RESPONDER-LHES INTEIRAMENTE POR MIM.

VAMOS ACORDAR DESTA SOCIEDADE NOJENTA E IMUNDA, ONDE JÁ NADA TEM VALOR, JÁ NADA É NECESSÁRIO FAZER PARA SE TER O QUER QUE SEJA, ONDE TUDO É EFÉMERO. TÃO TEMPORAL QUE ATÉ ESQUECEMOS MESMO ANTES DE MEMORIZAR VERDADEIRAMENTE. ESTA SOCIEDADE DE IMAGENS, ESTA SOCIEDADE DE IDEIAS FEITAS, ONDE É MUITO MELHOR RECEBER AS RESPOSTAS DO QUE PROCURAR-LAS, MESMO QUE AS RESPOSTAS DADAS NÃO SEJAM AS QUE NÓS QUEREMOS. VIVEMOS FIADOS NA PERFEIÇÃO, NA IDEALIZAÇÃO DE UM MUNDO PERFEITO, DE UM MUNDO DE IGUALDADES. ISSO NÃO EXISTE, NÃO EXISTE UMA PERFEIÇÃO, EXISTEM VÁRIAS, MILHARES, E A TUA PERFEIÇÃO É A MINHA IMPERFEIÇÃO. SOMOS INDIVÍDUOS, NÃO UM SÓ, TU NÃO ÉS EU, E EU NÃO SOU, NEM DE PERTO, NEM DE LONGE, TU. E POR QUE RAZÃO ISSO É MAU? POR QUE NÃO PODE HAVER MUITOS UNS? UM MAIS UM MAIS UM MAIS UM MAIS UM MAIS UM MAIS UM. É TÃO MAIS BONITO VER-ME COMO UM INDIVÍDUO QUE PERTENCE A UMA SOCIEDADE CHEIA DE TANTOS INDIVÍDUOS! NÃO SOMOS PRODUÇÃO EM SÉRIE, ONDE SOMOS TODOS IGUAIS, GOSTAMOS TODOS DO MESMO, QUERERMOS TODOS O MESMO. NÃO SOMOS BONECOS ANIMADOS ARTIFICIALMENTE. POR TER HAVIDO SEMPRE INDIVIDUALIDADE É QUE FOI-NOS PERMITIDO AVANÇAR. POR TER HAVIDO QUEM TENHA DITO: POR QUE RAIO ISSO TEM QUE SER ASSIM? NÃO CONCORDO. PESSOAS QUE O DISSERAM FORAM AS PESSOAS QUE NOS TROUXERAM ATÉ AOS DIAS DE HOJE, E ESSES VALORES PERDERAM-SE ALGURES, AINDA ESTARÃO POR AQUI, ENTRE NÓS, EM CADA UM DE NÓS, MAS ESTAMOS DEMASIADO OCUPADOS EM NÃO PENSAR PARA NOS APERCEBERMOS DISSO.
QUEM SE CALA É CULPADO. VAMOS NÃO NOS CALAR. VAMOS FALAR, VAMOS QUESTIONAR, VAMOS PROCURAR, VAMOS TENTAR SABER.

domingo, 13 de junho de 2010

Parte da tenção, antecipada ou não, dissipou-se, ficando apenas algumas reminiscências de um passado muito presente. Juntamente com a tenção foram alguns medos, e por consequência algumas vontades. Fiquei mais apático, mas menos infeliz, posso mesmo dizer, mais feliz. É estranho, normalmente não me sinto assim em situações destas, normalmente o stress mata-me, ou melhor, come-me, mas uma coisa é certa, ao largar certas coisas, ou desanuviar a minha cabeça, coisas boas perderam-se, mas coisas más também, e para ganhar por vezes é preciso perder.
Vamos agora marcar um novo caminho, pisar a relva verde, e todas as outras coisas lindas e não lindas que se encontram "sobre os meus pés" - quem me dera que algo se encontrasse a meus pés, acho que nem mesmo eu me levo em tão boa consideração.
Estou a ganhar muita mais convicção em mim próprio, e parecendo que não é uma grande diferença em relação aos dias melancólicos do tal passado recente. É-me muito mais fácil olhar e sorrir para o que vem ai, para o que ainda não sei o que é. É bom não saber, é bom ter que andar para descobrir, é bom ter que avançar para aprender.
E estes medos e receios, que muitos ainda estão presentes são uns medos bons de se ter, permite-me saber e sentir.